Tabela de frete provoca aumento nas importações brasileiras de cereais

Publicado em
19 de Setembro de 2018
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Além de trazer desajustes na formação interna de preços, a imposição da tabela de fretes pelo governo está provocando um aumento na importação brasileira de alimentos.

Nos dois últimos meses, o Brasil importou 278 mil toneladas de cereais do Paraguai, um volume 46% superior ao de igual período de 2017.

Este deveria ser um período de queda nas compras externas, principalmente devido à acelerada alta do dólar. O frete do país vizinho, porém, compensa parte dessa importação.

A avaliação é de Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, de Curitiba. "O mercado se reinventa e sempre vai achar uma saída para essas situações impostas", diz ele.

Arroz e milho estão na lista dos importados do país vizinho. No caso do arroz, São Paulo e Minas Gerais se beneficiam mais, uma vez que, além do frete menor, pagam menos imposto na circulação interna das mercadorias.

Após 11 dias de paralisações e manifestações dos caminhoneiros, o presidente Temer editou a Medida Provisória 832 e a ANTT instituiu a Resolução 5.820. Ambas determinam uma política de preços mínimo para fretes terrestres  O setor industrial é contra o tabelamento do frete e se colocou contra desde que Temer anunciou as medidas para acabar com as paralisações.

Até mesmo os caminhoneiros dizem que o tabelamento pode ser prejudicial. Eles temem falta de fiscalização e surgimento de um mercado paralelo no país

Os produtores de trigo afirmaram que, caso seja aprovado, o aumento nos custos gerado pelos novos valores dos fretes será repassado para os fabricantes de farinha, o que já ameaça o preço do pão francês 

Michel Temer que a mobilização de caminhoneiros em maio deixou o país perto de uma   Depois de diversas ações na Justiça, três das quais estão no STF, o ministro Luiz Fux suspendeu a tramitação de processos e convocou uma audiência pública para 27 de agosto

Michel Temer que a mobilização de caminhoneiros em maio deixou o país perto de uma "rebelião insolúvel" que forçou o governo a aceitar reivindicações, mas afirmou que o tabelamento de fretes pode ser renegociado Eduardo Anizelli/Folhapress

Dos produtos importados, o arroz é um dos que mais preocupam. As compras dos países vizinhos não deverão impedir uma aceleração dos preços internos já nas próximas semanas, segundo o analista da Brandalizze.

A alta do cereal vai chegar ao bolso dos consumidores e à inflação. A elevação do dólar não dificulta a entrada de arroz do Paraguai, mas facilita as exportações. O cereal brasileiro fica mais atrativo no exterior exatamente quando se inicia a entressafra e a oferta está mais escassa.

Brandalizze prevê exportação de pelo menos 1,2 milhão de toneladas do cereal nesta safra --10% da produção.

O valor atual do dólar permite vendas externas de arroz a R$ 50 por saca nas regiões próximas ao porto de Rio Grande (RS). Esse valor deverá provocar um efeito cascata no estado, cujos preços vão de R$ 43 a R$ 45 atualmente, dependendo da região.

Além disso, a indústria poderá antecipar as compras para o final de ano, prevendo redução na área a ser dedicada ao cereal na próxima safra.

A rentabilidade maior da soja ajuda nessa redução de área, que deverá cair para 1,9 milhão de hectares no país. Se confirmada, "será a menor em muitas décadas", diz ele.

A queda deverá ocorrer também em várias regiões produtoras do Rio Grande Sul, líder nacional na produção do cereal.

A previsão do analista é que os gaúchos semeiem arroz em uma área de 1,05 milhão de hectares e colham 7,5 milhões de toneladas. Na safra anterior, a área foi de 1,1 milhão de hectares, e a produção, de 8 milhões de toneladas.

Açúcar A produção mundial superou em 10 milhões de toneladas o consumo nesta safra 2017/18, que se encerra neste mês. A estimativa é do Rabobank, banco especializado em agronegócio.

Novo superávit  A safra que se inicia no próximo mês, e termina em setembro de 2019, terá novamente uma produção mundial maior do que o consumo. Desta vez, de 4,5 milhões de toneladas.

Opostos O superávit mundial se deve basicamente à produção da Índia, que atingiu 35 milhões de toneladas. O volume compensa a queda de produção no Brasil, que ficará em 28 milhões.

Bem abaixo As exportações de milho, se mantida a tendência até agora, deverão somar 3,2 milhões de toneladas neste mês. Em setembro de 2017, o volume foi de 5,9 milhões, segundo a Secex.

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