Artigo - "Recebimento fictício de carga: o pequeno e desagradável segredo sobre o qual ninguém quer falar"*

Publicado em
18 de Janeiro de 2016
compartilhe em:

Por Alexander McGinley, Vice-Presidente e Gerente de Subscrição, Transporte Terrestre

Há apenas uma geração, o alvo dos ladrões de carga eram caminhões parados em estacionamentos e pontos de descanso. Hoje, graças ao amplo uso do GPS, de fechaduras de alta tecnologia e de outras medidas de segurança pelas empresas de transporte rodoviário, os criminosos estão adotando novos métodos.

Uma das novidades mais bem sucedidas é criar uma companhia de transportes fantasma. A CargoNet, empresa de segurança de frete, diz que esse tipo de fraude esteve presente em cerca de 10% de todos os roubos de carga nos últimos anos. Em 2014, o valor médio de carga perdida para um captador fantasma foi mais de US$ 140.000. Algumas estimativas colocam as perdas totais com roubos de carga em US$ 15 bilhões ou até mais. Outros dizem que o roubo acrescenta até 20% de custos dos bens de consumo. (1)

Estes furtos são pouco conhecidos e raramente comentados fora do mundo dos transportes comerciais. As empresas que foram vítimas relutam em falar porque têm vergonha de dizer que não fizeram a devida avaliação das transportadoras e dos motoristas contratados. Além disso, a maioria dos estados não têm leis criminais separadas que cobrem roubo de carga.

Passar-se por uma empresa de transporte rodoviário existente não é muito difícil. A facilidade de falsificação fica provada na trajetória da dupla de assaltantes Jon e Kyle Dickerson, que são pai e filho. Ao longo de um período de 14 anos, eles se passaram por diversas empresas de transporte rodoviário: D&T Trucking, Night Line Trucking and Fish e várias outras. Quando uma companhia acumulava muitas violações de segurança ou ficava sob suspeita, eles simplesmente abriam uma nova empresa.

Outro método cada vez mais utilizado pelos ladrões é reativar uma empresa de caminhões extinta e seu respectivo número na Autoridade Interestadual de Operações do Departamento de Transportes (DOT) a partir de um site do governo. Essa operação custa muito pouco – algo como US$ 300. Usando credenciais falsificadas, os ladrões podem se passar por uma empresa que existe há muito tempo e que aparentemente tem um bom histórico.

Alem disso, há o sites tipo "loadboards", como Dat.com e Truckstop.com, onde corretores listam cargas que necessitam de entrega. Embora o conteúdo dessas cargas não seja revelado, os ladrões podem identificar as que têm valor com base em detalhes como a exigência de altos valores-base para o seguro ou de uma equipe de motoristas, ou ainda a saída de locais específicos como corredores de tecnologia ou depósitos de alimentos e bebidas.

Embora os ladrões estejam interessados em eletrônicos, esses itens são facilmente rastreáveis. Por isso, o maior alvo é o setor de alimentos e bebidas (cerca de 30% dos carregamentos fictícios), cujos produtos são fáceis de vender no mercado negro e difíceis de rastrear. Keith Lewis, vice-presidente de Operações da CargoNet, diz: "nunca vi um número de série em um pacote de frango e quando o frango é consumido, a prova se foi."

Aqui está o que embarcadores, transportadoras rodoviárias, corretores e intermediários precisam saber:

1. Mantenha a carga em movimento - carga parada é carga em risco. (veja os artigos “Thanksgiving Day Dinner Risks” e “Blackjacked” na seção )

2. Concentre-se nos "pontos quentes" e nos "períodos críticos" – o pico dos carregamentos fictícios acontece durante os feriados e estão altamente concentrados em alguns poucos estados como Califórnia, Flórida, Texas, Nova Jersey, Indiana, Nebraska e Wisconsin. Mais da metade dos carregamentos fictícios ocorrem nos finais de semana, às quintas-feiras e sextas-feiras, quando a principal preocupação dos carregadores e corretores é cumprir o prazo de entrega e satisfazer o cliente. Esta urgência faz com que alguns carregadores, corretores e operadores de armazém afrouxem a triagem de motoristas e transportadores.

3. Se ocorrer um roubo, comunique-o imediatamente - não atrase o relato de tentativas ou incidentes de carregamentos fictícios para os agentes da lei. Mesmo um pequeno atraso pode significar que você não vai ver a carga de novo. Assine um serviço de comunicação, como CargoNet, FreightWatch ou SC-ISAC, que irá ajudá-lo a monitorar e responder à atividades ilegais.
4. Saiba com quem você está trabalhando - Ter sua carga roubada de um lote não vigiado é uma coisa, mas ser enganado por um ladrão em plena luz do dia porque você não realizou os devidos procedimentos de inspeção é outra. Coloque em prática um processo de qualificação de transportadoras e siga-o de forma consistente. O mesmo vale para os corretores que trabalham com você e os funcionários que você contratar. Confie, mas verifique.

Aqui está o que o Jornal de Comércio (2) recomenda:

• Solicite 3 tipos de identificação ao motorista, incluindo tanto uma emitida pelo governo como outra emitida por uma empresa, além do US DOT Medical Examiners Certificate antes de liberar a carga.
• Tire uma foto de perto do rosto do motorista (com uma imagem clara e visível) e, se possível, pegue seus registro de dados biométricos, tais como uma impressão digital. Fotos de alta definição de documentos de identidade são muito úteis para as investigações policiais e processos criminais.
• Verifique toda a documentação, incluindo contas de cargas, fotografia de caminhões e placas de licença, cuidadosamente observando marcas, números de identificação e sinalização. Use ID Verify, disponível on-line, para validar as identidades do motorista e do pessoal de transporte.
• Você pode usar o GPS para rastrear seus caminhões, mas e se você estiver usando o caminhão de outra pessoa para transportar suas remessas? Acompanhe os seus envios usando a tecnologia RFID. Esses chips podem ser colocados diretamente nos pallets ou embutidos dentro das cargas.
Contar com a cobertura de seguro apropriada

Se você é o remetente (o consignatário ou expedidor) dos bens, determine se a responsabilidade padrão do caminhoneiro vai cobrir sua perda. Ela geralmente será limitada a uma quantidade de dólares por libra-peso ou valor, que pode ser menor do que o valor de sua propriedade. Aumente a responsabilidade para o valor total dos bens. Vai custar um pouco mais, mas vale a pena.
Melhor ainda, compre uma apólice de seguro de interesse do expedidor, que é uma cobertura para transporte terrestre. Isso cobre todos os seus envios dentro dos parâmetros acordados entre você e a companhia de seguros. Ela exige pouca manutenção, já que os valores enviados serão reportados apenas uma vez por ano, depois que a apólice expirar. Se você enviar mais do que o esperado, vai pagar um prêmio adicional; mas se o montante for inferior, você receberá um prêmio de retorno (sujeito a uma quantidade mínima). Desta forma, você sabe exatamente o que está coberto e não precisa confiar na responsabilidade do transportador para proteger seu interesse.

Se você é uma transportadora rodoviária com uma operação de expedição ou corretagem de fretes ou ainda se tem foco no agenciamento de carga ou somente em corretagem, você precisa de cobertura para cargas transportadas por caminhões motorizados com o complemento de uma cobertura contingente. Esse formato remove uma cláusula da seção de Bens Não Cobertos de sua apólice de seguro (a qual elimina o seguro para expedição de mercadorias ou operações de corretagem), dando a cobertura de volta.


* Alexander McGinley é vice-presidente e gerente de subscrição para transportes terrestres região das Américas da XL Catlin. Entre em contato com Alexander pelo telefone 860-709-3695 ou pelo email [email protected]

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.