O Momento Econômico e os Operadores Logísticos

Publicado em
19 de Novembro de 2015
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Todos os cenários desenhados para os próximos dois ou três anos, principalmente para o Brasil, são de situação bastante difícil. É sabido que os erros cometidos pelos três últimos governos, o 2º mandato de Lula e, principalmente, os dois de Dilma, trarão, ainda, muitas consequências indesejáveis para o País. A exagerada insistência em um modelo econômico que se baseou no consumo e nos incentivos para a indústria não deu o resultado esperado, mostrando-se inadequado e defasado enquanto política econômica voltada ao crescimento.

Sem quaisquer tendências ao “terrorismo”, a conclusão é a de que os problemas vividos pelo Brasil atualmente (inclusive os econômicos) são muito maiores e mais complicados do que se está admitindo ou percebendo e, portanto, com consequências por demais conhecidas, infelizmente: recessão com inflação e desemprego.

E mais, considerando que as medidas para o “ajuste fiscal” precisam ser adotadas (algumas já foram), caso se queira resolver de fato os problemas econômicos brasileiros, teremos mais desemprego e mais recessão. Atualmente já temos uma economia recessiva, com drástica diminuição da receita fiscal e dificuldades enormes para se alcançar o ajuste necessário. Por outro lado, a inflação, ainda sem o devido controle, tende a manter os juros altos e estes, por sua vez, manterão os serviços da dívida aumentando a cada dia. Portanto, mais problemas para o ajuste fiscal!

Além disso, a falta de uma política fiscal mais efetiva tem obrigado o governo a recorrer demasiadamente à política monetária, com manutenção de juros reais altos e consequente desestímulo aos investimentos produtivos. O mercado externo, uma das alternativas de crescimento econômico, apesar da melhoria das receitas por causa do dólar, contará, infelizmente, com mercados internacionais menores e preços em queda. Como pano de fundo, o desemprego crescente manterá os movimentos reivindicatórios em evidência e pressões políticas cada vez mais fortes: uma armadilha e tanto.

Não fosse só isso, as crises com o Congresso Nacional e o comportamento ‘ambíguo’ do governo e dos seus partidos de sustentação (não sabem se cumprem as promessas de campanha ou se apoiam o ajuste), trarão outras dificuldades para o correto encaminhamento das soluções. Adicionem-se ao cenário aqui descrito a falta de credibilidade e a “Lava-Jato”, que, por si só, serão suficientes para criar mais instabilidade e insegurança.

Momento difícil para todos!

Portanto, reitera-se, para este e o próximo ano, a maioria das empresas brasileiras, com as exceções de sempre, encontrará sérias dificuldades para colocar seus Planos de Negócios em bons termos e não é à toa que todas elas estão buscando liquidez, rentabilidade e preservação de suas posições de mercado. E o aumento da produtividade, sem dúvida, será uma das principais formas para se alcançar diminuição de custos.

Como já comentado em diversos artigos, é aqui que surgem as melhores oportunidades para usuários e operadores logísticos, pois a busca dos objetivos citados implica no fato de que as empresas, entre outras providências, “precisam melhorar o atendimento a clientes, suas cadeias de suprimentos e seus processos operacionais”.

Fartamente comprovado por pesquisas em todo o mundo, a terceirização das atividades logísticas é um dos caminhos para essa diminuição de custos operacionais. E fundamental, uma vez que o operador logístico exerce papel de importância estratégica junto aos usuários de serviços logísticos. Entretanto, como também indicam as pesquisas do setor, através da logística são alcançados novos mercados, aumenta-se o faturamento e se mantém clientes satisfeitos, colaborando efetivamente para a geração de novos negócios. É o cumprimento do papel estratégico da logística. Esta deixa de ser apenas um meio de redução de custos e faz parte da “essência da estratégia competitiva” empresarial.

 No entanto, ainda segundo as pesquisas, o item mais importante para se substituir um operador logístico não é o preço, e sim, a má qualidade dos serviços prestados. Demonstração inequívoca de que a escolha de um operador logístico está intimamente vinculada ao conceito da relação custo-benefício.

Apenas para ilustrar ainda mais a afirmação anterior, vale lembrar pesquisa feita pela Accenture, que mostra, de forma indiscutível, que a confiança e a qualidade do serviço são os critérios mais importantes e com os maiores pesos na seleção de um operador logístico¹.

(¹) Estudos em vários países indicam que 74% dos pesquisados acreditam que o relacionamento pessoal contribui para o sucesso dos operadores logísticos e da terceirização e que os aspectos comportamentais, tais como confiança e comprometimento, são necessários para uma relação de lealdade, fidelidade e expansão dos negócios.

Entretanto, se a terceirização da logística é um dos caminhos, é fundamental que os usuários dos serviços logísticos entendam que:

  • A integração, a coordenação das funções logísticas e a montagem de um planejamento que incorpore seus fornecedores e clientes, passam a ser cada vez mais importantes nas decisões empresariais;
  • É imprescindível alinhar a função logística com a estratégia da empresa (eu chamo isto de Cultura Logística²);
  • Torna-se imprescindível difundir o conceito de administração integrada da logística, através do conceito de Custo Total³;
  • Colocar a logística no topo da hierarquia da organização e criar estrutura organizacional específica para as atividades logísticas são ações obrigatórias;
  • A terceirização pode liberar energias para o seu “core business” e o operador logístico pode vir a ser um grande parceiro na cadeia de valores ampliada;
  • As análises de “trade-off” são cada vez mais essenciais na logística, uma vez que a troca compensatória, entre as diversas variáveis da cadeia de suprimentos, tem o objetivo único de facilitar e/ou subsidiar o julgamento e a decisão das alternativas mais adequadas;
  • A contratação (aquisição) de serviços logísticos é muito mais complexa do que a compra de “commodities”².

 

(²) Veja artigo publicado aqui mesmo, em setembro de 2015, “Cultura Logística”. 

(³) Custo Total: busca da diminuição dos custos totais da logística, em vez de se buscar a diminuição dos custos de cada uma das atividades que integram esses custos.

Em quaisquer circunstâncias, para terceirizações já implantadas ou a implantar, é necessário que se revejam as relações entre usuários e prestadores de serviços, como forma de se adaptar aos novos momentos. Se já era importante a realização periódica de avaliações de performance e ajustes contratuais, agora tornou-se fundamental a reavaliação dos contratos vigentes e, principalmente, das premissas consideradas à época da contratação desse operador logístico. Consequentemente, configuram-se como imprescindíveis alguns cuidados, tais como:

  • Redefinir, claramente, o escopo e as obrigações essenciais de cada parte;
  • Reescrever o fluxo operacional de forma clara, bem como os aspectos estruturais relevantes;
  • Especificar os novos níveis de serviço, de segurança, de indicadores de desempenho e dos relatórios de acompanhamento exigidos;
  • Estabelecer, caso ainda não sejam contemplados, programas de melhoria contínua, planos de contingência e de ganhos de produtividade;
  • Estabelecer processos de auditorias constantes e periódicas.

 

Os operadores logísticos, por seu lado, sabendo que os desenhos logísticos tendem a ser mais personalizados e específicos para cada cliente, produto ou região, em mercados (consumidores ou fornecedores) cada vez mais distantes e complexos, precisarão entender que os desenhos das cadeias de abastecimento ou das redes logísticas precisam ter alto desempenho e passam a ser muito mais do que um desenho de malha, pois, como já comentado anteriormente,  incorporam decisões estratégicas e táticas.

Algumas limitações precisarão ser reconhecidas e administradas, tanto por operadores quanto por usuários da logística: (i) entender o que está ou não está sob seu controle; (ii) considerar o que não se sabe; (iii) entender as diferenças culturais entre as empresas; (iv) antecipar riscos e as resistências às mudanças; (v) solucionar os problemas do cliente, e não somente aqueles identificados através de sua percepção.

Nesse cenário, os Operadores Logísticos que quiserem ocupar esses espaços terão, sem dúvida, muitas oportunidades. Mas, para realizar isso com eficácia, deverão atender às novas exigências, sem nunca esquecer, como é óbvio e como traduzem as pesquisas, que um dos principais motivos para se terceirizar a logística ainda continua sendo a diminuição de custos.

Conclusão: na medida em que os usuários dos serviços logísticos, quase que de forma obrigatória, buscam a melhoria significativa no atendimento aos seus clientes e às suas cadeias de abastecimento, vão sendo criados, para os operadores, novos espaços para a terceirização dessas atividades.

* Paulo Roberto Guedes é consultor de empresas e professor do curso de Logística Empresarial do GVPec, da EAESP/FGV

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