Artigo: As micromultinacionais e como elas definirão nossa era*

Publicado em
04 de Setembro de 2015
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“Não vale a pena fundar uma empresa nos dias de hoje se ela não puder se globalizar.”

  • Sir Richard Branson, fundador do Grupo Virgin

No início de 2003, um dinamarquês chamado Janus Friis e um sueco chamado Niklas Zennström conceberam um aplicativo e fundaram uma empresa com a ajuda de três desenvolvedores de software da Estônia. Assim nasceu uma multinacional, embora pequena e desconhecida. Eles registraram um domínio de internet e se prepararam para lançar a versão Beta do aplicativo no final daquele ano.

Em 2011, a empresa foi comprada pela Microsoft por astronômicos 8,5 bilhões de dólares[1]. O aplicativo deles, o Skype, tinha se popularizado. Na verdade, eu mesmo tenho o aplicativo no smartphone que trago no meu bolso enquanto escrevo este artigo e tenho certeza de que o mesmo acontece com muitos de vocês, leitores.

Este foi apenas um dos primeiros casos de ‘micromultinacionais’ – empresas pequenas e empreendedoras que 'nascem globais’ ou que aproveitam plataformas de negócios on-line e a crescente abertura da economia global para entrar em mercados globais[2].

O que viabilizou a ascensão das micromultinacionais é a realidade de que, no século XXI, uma empresa não precisa ser grande para se globalizar. Hoje, bastam um dispositivo móvel, uma plataforma de envios e uma grande ideia. Mesmo a menor das empresas pode ter acesso a inovações na área de comunicação e informática que, apenas 15 anos atrás, eram inacessíveis até às grandes empresas. E esse acesso acontece quase sem custo ou a custo zero. Trata-se de uma mudança radical: Hal Varian, economista-chefe do Google, acredita que isso revolucionará a economia mundial e a cultura do início do século XXI[3]. Penso que ele não está exagerando. Ao combinarem redes virtuais (internet de alta velocidade, comunicação móvel e outras tecnologias digitais) e redes físicas (sistemas de transporte e plataformas logísticas), as micromultinacionais têm o potencial de mudar indústrias quase que de um dia para o outro. Elas definirão nossa era da mesma forma que as grandes corporações multinacionais definiram os negócios globais no final do século XX.

Mas o que as micromultinacionais têm de especiais? Para começar, por definição, micromultinacionais são empresas de pequeno a médio porte (PMEs), um elemento criticamente importante da economia global. As PMEs representam cerca de 90% de todas as empresas[4] do mundo, e mais de 50% dos postos de trabalho mundiais[5]. Têm as mesmas vantagens das outras PMEs, como agilidade para responder às mudanças no mercado, um DNA colaborativo que fomenta a inovação e estão livres da inércia institucional que costuma flagelar as organizações maiores[6]. Assim, como não poderia de ser, a escala da oportunidade representada pelas micro, pequenas e médias empresas (ou MPMEs) chamou a atenção dos observadores. Já em 2012, a McKinsey previu que, ao atenderem as MPMEs de mercados emergentes, os bancos poderiam aumentar suas reservas em 20% ao ano de 2010 a 2015[7].

Entretanto, embora as micromultinacionais sejam uma parte bastante importante da categoria de PME, existe uma diferença entre as micromultinacionais e as demais PMEs. As micromultinacionais têm vantagens que não estão disponíveis às PMEs que operam em um único mercado, como a capacidade de explorar as variações globais em termos de conhecimento, habilidades e custos de mão de obra[8]. Elas podem operar seu negócio no mundo todo, ininterruptamente, em múltiplos fusos horários[9]. Em essência, as micromultinacionais têm todos os benefícios tradicionais de serem pequenas e ágeis, além de outros que resultam da capacidade de operar e vender seus produtos e serviços em múltiplos mercados globais[10].

No contexto da América Latina, o Chile é um bom exemplo disso. O país tem os maiores índices de criação de novos empreendimentos voltados a essa oportunidade dentre as economias latino-americanas, e se beneficiou de um crescimento sustentável, políticas fortes e direcionadas e orientação internacional. As empresas de pequeno porte representam 99% de todas as empresas do Chile, gerando 75% dos empregos. Embora a escassez de recursos e a limitação do acesso a serviços financeiros e a fontes de inovação dificultem a atuação no mercado global, as pequenas empresas chilenas apresentam níveis cada vez mais altos de atividade internacional[11].

Claro que as micromultinacionais enfrentam as mesmas realidades comerciais que as demais empresas. Algumas quebrarão ou serão compradas por outras. A maioria delas não será a ‘próxima Skype’. Elas provavelmente serão muito mais parecidas com a Vast.com, uma provedora de soluções de big data para compradores residenciais. A empresa tem 25 funcionários que atuam em cinco fusos horários, quatro países e dois continentes. Seus executivos ficam em São Francisco, o CTO está baseado na República Dominicana e a equipe de desenvolvimento, em Belgrado. Segundo o CEO, “estamos construindo a empresa de uma forma que teria sido impossível até dois anos atrás[12]”.

Outro exemplo é a Local Motors, uma empresa automotiva do Arizona que possui um diferencial. Ela não tem equipe de projetos e faz pouca pesquisa e desenvolvimento internamente. Em vez disso, possui uma rede on-line de 12.000 projetistas autônomos, em 121 países, que colaboram no desenvolvimento de projetos automotivos futurísticos. Ao contrário da maioria das montadoras, a Local Motors não possui grandes fábricas ou sofisticados escritórios globais. A empresa produz carros usando uma rede de microfábricas. Ela já projetou e fabricou 50 veículos off-road e planeja produzir outros 1.500. Baixas despesas gerais fazem com que esse modelo de negócio seja altamente bem-sucedido: a empresa possui apenas 15 funcionários em tempo integral[13].

Acreditamos que as micromultinacionais mudarão a forma dos negócios globais em diferentes setores industriais e fronteiras geográficas. O setor de logística tem um papel fundamental no sucesso dessas empresas e estamos nos preparando para apoiá-las fornecendo, além de uma logística rápida e confiável, muita expertise em regulamentos de importação e exportação e gestão da cadeia de suprimentos[14]. Afinal, a promoção do comércio internacional promove também os interesses das micromultinacionais, contribuindo para a saúde das economias nacionais[15]. E, quando isso acontece, as micromultinacionais, seus funcionários, clientes e comunidades – enfim, todos – prosperam.

*Raj Subramaniam, vice-presidente executivo de marketing e comunicação global da FedEx Services

 

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