Tendências dos Operadores Logísticos*

Publicado em
01 de Julho de 2015
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Em artigos neste espaço e em outros, tenho ressaltado a importância estratégica das operações logísticas e, como consequência, o significativo papel que os operadores logísticos modernos deverão desempenhar (como muitos já fazem), tanto para o crescimento empresarial como para o desenvolvimento das nações.

Aqui mesmo, em meu último artigo, comentei sobre como o fator humano – pré-requisito para toda e qualquer atividade – é fundamental na prestação dos serviços logísticos (“Capacitação Profissional e Desempenho Logístico”).

Os mercados mundial e brasileiro de logística vivem momentos de acirramento da competição e, apesar de tudo, muitas empresas têm aproveitado o momento para consolidar e expandir suas posições, pois sabem que há uma tendência natural de migração para a realização de serviços mais complexos, isto é, sair da posição de provedor de serviços logísticos, cujo foco é a redução de custos, com nichos de serviços e infraestrutura específicos e ir para a posição de Gerenciador Líder de Logística, na qual a função de Integrador da Cadeia de Abastecimento será cada vez mais solicitada.

Aliás, esta é a forma como foi definida a atividade de “supply chain”, em 1994, no ‘The International Center for Competitive Excellence’: “integração dos processos do negócio, desde o usuário final até os fornecedores originais que proporcionam os produtos, serviços e informações que agregam valor para o cliente”.

Portanto, como serão essas novas empresas que, cada vez mais, poderão se dedicar às atividades de integrador da cadeia de abastecimento?

Muitas universidades, escritórios de consultoria e entidades, nacionais e estrangeiras, que se dedicam ao estudo da logística e do “supply chain”, têm apresentado, ao longo dos anos, trabalhos nos quais se procura descrever e explicar as tendências dos operadores logísticos ao longo do tempo.

Analisando muitos desses e outros trabalhos, inclusive acadêmicos, com base na experiência adquirida como profissional de empresas de prestação de serviços logísticos, no Brasil e no Exterior e no contato com clientes que utilizam a logística de forma muito avançada, mas sem qualquer presunção, procuro, a seguir, fazer alguns comentários a respeito dessas tendências.

Antes, porém, algumas observações sobre os processos de mudança organizacional.

Como pode ser visto pelo quadro a seguir, toda e qualquer empresa, no mundo atual, é cobrada por diversos “patrões”:

Se por um lado, acionistas, empregados, clientes, fornecedores e governo continuam exigindo cada vez mais das empresas, outros agentes, tais como ‘meio-ambiente’ e ‘sociedade’, também começam a fazer suas próprias reivindicações. E, todos esses “patrões”, aumentam a quantidade de exigências, que, por sua vez, são cada vez mais complexas. Mesmo que em algum momento um dos “patrões” seja mais exigente que os outros, há que se atender todos e ao mesmo tempo!

Como consequência, e felizmente, as empresas e as organizações mudam e precisam mudar, como única forma de acompanhar e atender as novas solicitações impostas.

Por outro lado, sabe-se que não existem mudanças apenas ‘técnicas’, posto que estas atuam sobre variáveis do sistema social e agem de forma significativa nos sistemas político, cultural e até psicológico das organizações. Embora muitos imaginem estar realizando apenas mudanças administrativas, técnicas ou operacionais, o que se está mudando – ou no mínimo influenciando - são os aspectos sociais e culturais das empresas, uma vez que sejam quais forem as transformações, elas são realizadas por pessoas. Inevitavelmente, estaremos gerando, também, reações comportamentais.

Portanto, essas mudanças, para alcançarem seus objetivos e não ficarem apenas no “fazer de conta que mudou”, precisam contar com pessoal preparado (“antenado”, termo utilizado no artigo mencionado e publicado aqui mesmo no Guia do TRC), que tenha sensibilidade e percepção clara sobre o ambiente no qual se vive ou se trabalha, e reagir rapidamente. Sem viver modismos (mudar ao sabor de qualquer movimento e gerar desgastes desnecessários) é preciso adequar-se às mudanças fundamentais do mundo novo, pois a inércia ou a indecisão tem feito com que muitas empresas “parem no tempo”. Estar “antenado”, portanto, é uma das várias virtudes que caracterizam o executivo e/ou empresário contemporâneo.

Voltando à logística: procurando adequar-se às novas exigências de mercado e dos ambientes nos quais estavam inseridos é que se promoveram as grandes mudanças nos prestadores de serviços logísticos e se desenharam as novas tendências.

A Accenture Consultoria, por exemplo, procurou explicar as tendências dos últimos 40 anos através do quadro a seguir:

 

Como pode ser visto, quanto maior a complexidade das operações e do escopo da terceirização logística, maior é o nível de controle do operador e mais estratégica é a sua posição perante o cliente. A relação entre Operador Logístico e Cliente é muito mais estratégica do que operacional.

Já o “framework” a seguir, desenvolvido pela consultoria Ernst & Young em conjunto com o Georgia Institute of Technology, indica, também ao longo do tempo, que os serviços mais avançados somente serão executados por empresas que tenham, junto a seus clientes, relacionamentos mais estratégicos e que compartilhem riscos e ganhos operacionais. As empresas denominadas 4 PL (Gerenciador Líder de Logística ou Integrador da Cadeia) seriam as empresas aptas a executarem essas atividades.

 

De uma forma ou de outra, o que se observa é que os 3PL (Third Party Logistics Provider / Provedor de Serviços Logísticos) ou os 4 PL (Fourth Party Logistics Provider / Prestador de Serviços que opera a Cadeia de Suprimentos) são empresas independentes, que juntam, coordenam e administram recursos, capacidades e tecnologias da sua própria organização, com as de terceiros, para realizar atividades logísticas com eficiências não obtidas pelo cliente.

Dentro desse contexto é possível que haja uma segmentação dessas empresas por setores industriais (automotivo, farmacêutico, químico, etc.) e por canais de distribuição (varejo, venda direta, comércio internacional, industrial, etc.). Algumas empresas poderão adquirir “expertise” em um ou mais setores, mas diante da especificidade de cada tipo de serviço a ser executado, buscarão segmentar suas operações em divisões autônomas.

Ao que tudo indica, o posicionamento estratégico que se apresenta mais viável às empresas que buscam se firmar nas atividades logísticas é, pela ordem, posicionar-se de forma diferenciada frente aos clientes, reforçar sua marca através de reconhecida capacidade operacional e oferecer prestação de serviços bastante abrangente e que sejam, de fato, integrados. Mas, como dito anteriormente, desde que esses operadores tenham funcionários ou grupo de pessoas capacitadas e ligadas às mudanças do mercado e ajam, de forma rápida e precisa, sempre buscando identificar as necessidades dos clientes e das exigências dos diversos “patrões” da empresa.

** PAULO ROBERTO GUEDES É PRESIDENTE DA VELOCE LOGÍSTICA

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