Dirigíveis: Uma solução do passado que pode garantir o futuro da logística brasileira

Publicado em
30 de Outubro de 2014
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O investimento em infraestrutura necessária para colocar o país no patamar de primeiro mundo é extremamente elevado e necessita de muito tempo para ser concluída e gerar o retorno necessário

Há muito se fala da péssima qualidade da infraestrutura logística do Brasil, dos problemas em nossas rodovias, portos e aeroportos e da dificuldade e das perdas que acontecem durante a movimentação de cargas dentro do país.

Por conta da inércia dos governantes em resolver de forma definitiva o problema e pela percepção dos empresários que esta solução não acontecerá no curto ou médio prazo (e para os mais pessimistas, nem no longo prazo), soluções alternativas que possam resolver o problema sem a necessidade das ações governamentais sempre são discutidas.

Uma solução interessante que está sendo levantada ultimamente é a utilização de dirigíveis para contornar problemas de transporte de cargas. Depois do fatídico acidente com o Hindenburg em 1937, associado ao crescimento da indústria aeroespacial com o desenvolvimento de aeronaves comerciais mais eficientes (e somando-se a isto o crescimento de um sentimento antinazista que se opunha a qualquer coisa que pudesse aumentar a influência alemã no mundo), a tecnologia do dirigível foi abandonada.

Mais de 70 anos depois, com a evolução das tecnologias de materiais (com materiais mais resistentes e mais leves) e, principalmente, dos gases que pudessem ser utilizados nos dirigíveis (Por Exemplo, a substituição do Hidrogênio - Inflamável - pelo hélio - Não inflamável, principal problema na época para se manter os dirigíveis operacionais e seguros), fez com que essa tecnologia voltasse à tona.

Atualmente, a tecnologia do dirigível já permite transporte de cargas de até 50 toneladas a uma velocidade de até 120 Km/h (não vamos, neste artigo, considerar tecnologias que prometem velocidades próximas dos 500 km/h com capacidade de carga de até 200 toneladas por serem muito recentes), o que apresenta clara vantagem em relação ao transporte de mercadorias utilizando-se de caminhões ou até mesmo em relação à cabotagem e ao transporte fluvial.

A acessibilidade do dirigível é sua principal característica. Pela baixa infraestrutura necessária para sua operação, ele consegue chegar mais fácil e mais rápido a áreas inacessíveis a caminhões e aviões, permitindo levar grande quantidade de materiais e pessoas sem depender de rodovias, ferrovias ou aeroportos.

Abaixo alguns exemplos de aplicações:

Agricultura

O transporte de graõs pode ser feito diretamente da fazenda para o porto em volumes maiores e com maior rapidez se comparado aos caminhões.

Um dirigível poderia carregar 50 toneladas de soja diretamente na fazenda e levá-lo diretamente ao porto a uma velocidade média de 100 Km/h, o que tem um potencial significativo de redução dos custos de transporte de grãos.

A descarga dos grãos poderia ser feita diretamente dentro do navio, não sendo necessária a ancoragem no porto, o que aliviaria o congestionamento dos portos brasileiros.

Um exemplo interessante seria o transporte de soja para os portos: os 1800 km que separam Cuiabá do porto de Paranaguá que hoje precisam em média de 30 horas para ser vencido por um caminhão com 40 toneladas, poderiam levar 18 horas com um dirigível com 50 toneladas.

A descarga diretamente no navio ajudaria a evitar as imensas filas e a perda de tempo muito comum no porto de Paranaguá nos períodos da safra.

Outra grande vantagem seria a acessibilidade. Normalmente os últimos quilômetros de acesso às fazendas são de péssima qualidade, o que causa problemas de manutenção nos caminhões e gera grande perda de tempo. Com o dirigível a qualidade das estradas não impactaria no tempo e nem na manutenção do veículo.

Transporte de pessoas

Comparado com um ônibus, um dirigível pode levar um número muito maior de pessoas com uma velocidade média muito maior, o que reduziria o custo de viagens em uma nação continental como o Brasil. Para aqueles em que o ganho de tempo proporcionado por um avião não é o fator principal, um dirigível pode oferecer um bom custo benefício.

Por exemplo: uma viagem de ônibus de Porto Alegre a Campo Grande leva 40 pessoas e dura 24 Horas. Em um dirigível poderia levar 100 pessoas mais 40 toneladas de carga e durar apenas 14 horas.

Além do ganho de tempo para os passageiros, tem também o conforto proporcionado pois um dirigível pode oferecer muito mais espaço para os passageiros sem um impacto significativo no custo da viagem.

Para viagens mais curtas como São Paulo - Rio, feitas hoje na casa de 40 minutos por um avião, demoraria algo em torno de 3 horas, porém com o potencial de levar algo em torno de 500 pessoas. Para aqueles que não possuem o problema do tempo, a redução no preço da passagem propiciada pelo volume de pessoas poderia ser interessante, sem considerar o fator turístico da viagem propiciada pela estrutura do veículo.

Comparado com longos percursos e considerando-se a possibilidade do transporte de cargas junto com o transporte de pessoas, o dirigível é uma excelente opção quando comparada ao transporte rodoviário, e ainda poderia oferecer uma melhor qualidade, com a disponibilização de várias classes e de cabines.

Segurança

No viés de segurança, o dirigível demonstra toda sua versatilidade através da sua capacidade de permanência no ar a um custo inferior ao de outras tecnologias, como o helicóptero, por exemplo.

Unidades de monitoramento de trânsito equipados com uma unidade de atendimento de emergência podem permitir o monitoramento do trânsito e o atendimento rápido de vitimas de transito (em cidades e em rodovias) de forma mais eficiente (podem levar mais equipamentos médicos que um helicóptero) e mais rápido (já estariam no ar, sendo necessário somente o deslocamento para o local) que uma ambulância ou um helicóptero.

No caso de acidentes envolvendo ônibus, comuns nas estradas brasileiras, a capacidade de socorro e atendimento de um dirigível supera em muito a de uma ambulância. Um dirigível pode ter uma unidade de emergência que permita atender muitas pessoas ao mesmo tempo. Esta unidade pode ser utilizada não só par acidentes de transito de grandes proporções, mas para desastres humanitários, como os vistos em Angra dos Reis e Petrópolis recentemente por conta das chuvas.

A vigilância de fronteiras, principalmente em grandes fronteiras como o Brasil, também pode ser beneficiada pelo equipamento. Equipado com câmeras de longo alcance, e estacionado em alturas elevadas, o dirigível pode ser um excelente centro de observação e coordenação de operações em terra.

Na área militar, o transporte de tropas seria bastante simplificado por conta da facilidade de operação do dirigível, pelo volume de material e pessoas transportadas, principalmente à locais inacessíveis por outras vias.

Acesso a regiões inacessíveis por via terrestre.

Existem situações extremas nas quais os dirigíveis podem ser considerados. Imagine a construção de uma hidrelétrica em um local afastado. A primeira ação seria construir uma estrada de acesso ao local da obra que suportasse cargas muito pesadas. O dirigível poderia levar materiais, equipamentos e pessoal para o local da obra sem a necessidade de criação de infraestrutura auxiliar, o que ajudaria na redução dos custos da obra e permitira o desenvolvimento de projetos em locais hoje inimagináveis, como no coração da floresta amazônica ou no meio do Pantanal, por exemplo.

A construção de linhas de transmissão seria amplamente facilitada pelo transporte de materiais e suprimentos, de pessoal e no suporte à obra. A construção de linhas de telecomunicação (seja antenas ou cabos) que integraria locais mais afastados da nação seria bastante simplificada.

O dirigível é um meio de transporte versátil que pode gerar muitos benefícios e que possui na relação capacidade de carga versus velocidade o principal fator de viabilidade econômica. Sua adoção pelo mercado nos atuais patamares (50 Ton a 120 Km/h) pode alavancar seu desenvolvimento, fazendo com que promessas como a do dirigível que transporta algo em torno de 200 toneladas a uma velocidade próxima de 400 km/h se tornem realidade, aumentando ainda mais sua gama de aplicação.

Essa tecnologia tem o potencial de minimizar o impacto da péssima infraestrutura brasileira, reduzindo os imensos custos do transporte de material e pessoas no país, descongestionando portos, aeroportos e rodovias e levando transporte rápido e de qualidade a locais que hoje não dispõe destes recursos.

Com os problemas de infraestrutura existentes no país, e alguns investimentos já em andamento, a expectativa e que até o final dessa década já possamos ver alguns dirigíveis em nossos céus, contribuindo para o desenvolvimento desta nação.

As imensas dificuldades de infraestrutura do país deveríam ser um forte agente motivador para os investimentos nesta tecnologia, contribuindo para colocar o Brasil na vanguarda do transporte de cargas no mundo. Vamos esperar que a sociedade e o governo consigam enxergar muito além dos benefícios imediatistas que esta tecnologia possa nos proporcionar.

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