Agronegócio brasileiro dribla gargalos

Publicado em
30 de Setembro de 2014
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Setor usa de tecnologia de ponta em todas as áreas do processo produtivo, ganhando competitividade no cenário internacional

Se a logística brasileira anda a passos lentos, com estrutura deficitária em portos e estradas, o campo caminha num ritmo completamente diferente. Com injeção de tecnologia em todas as áreas do processo produtivo - da semente ao monitoramento da safra -, o agronegócio brasileiro vem conseguindo driblar os gargalos de infraestrutura e ganhar competitividade no cenário internacional.

Só nos últimos dez anos, o volume de exportações agropecuárias cresceu 70%. No ano passado, bateram recorde pelo segundo ano seguido, ultrapassando US$ 101 bilhões em receita. A produção de grãos, que nesta safra deve passar de 195 milhões de toneladas, cresceu 60%. Se, para suprir a demanda internacional, a meta para 2020, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é aumentar a produção em 20%, sobre o Brasil, recai uma expectativa dobrada - 40%.

"O agronegócio brasileiro tem sido convocado para atender à demanda mundial crescente de alimentos, fibras e energia. Paralelamente, a sociedade brasileira ainda conta com o agronegócio para controle da inflação, geração de divisas e para a continuidade do processo de redução da desigualdade de renda e da pobreza. O setor vem respondendo positivamente a esses múltiplos desafios", diz Geraldo Barros, coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

O grande protagonista do salto de produção, sem dúvidas, foi a tecnologia. "Houve uma expansão da área plantada no Brasil nos últimos anos, mas o que fez realmente a produção se destacar foi o crescimento da produtividade", diz André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult.

"É um conjunto de tecnologias aplicadas que vão desde a semente, com desenvolvimento de material genético adaptado às condições de produção da agricultura tropical brasileira, com uso adequado de fertilizantes e agroquímicos, até a renovação do parque de máquinas", diz Pêssoa. Hoje, o produtor tem se munido de plantadeiras, tratores e colheitadeiras muito mais eficientes, com uso de geolocalização por satélite - o que aumenta a precisão e controle sobre a produção.

"A inovação no agronegócio se deveu ao fato de que o produtor rural é um pesquisador. Ele desafia a natureza, testa variedades diferentes de sementes conforme o período e aprende rápido a operar tecnologia de mecânica de qualidade, como plantadeiras com GPS", exemplifica Mauro Lopes, coordenador de projetos do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Elísio Contini, chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, também classifica a tecnologia como chave. "Embora não tão aprimoradas, tivemos políticas governamentais, como crédito para custeio e investimento, além de um ’socorro’ quando necessário para a comercialização e uma infraestrutura mínima", diz. "Mas o fator tecnológico explica quase 70% da renda do produtor. Se não tiver tecnologia, não adianta terra, não adianta nada."

Novidades. E os investimentos tecnológicos não param. O próximo paradigma do campo - já usado em mais de 200 lavouras no País, segundo pesquisa do Ibre/FGV - é o uso de equipamentos como drones, veículos aéreos não tripulados, para monitoramento da plantação. Eles são leves, pequenos e podem fazer imagens de resolução muito superior às de satélite. Outra novidade, ainda em laboratório, são os jipes-robôs que fazem análise química de qualquer amostra de solo ou cultura com uma simples emissão de laser.

Na fronteira dessas inovações no agronegócio estão instituições de pesquisa, como a Embrapa e a Esalq/USP. "As parcerias entre as instituições de pesquisa têm sido uma experiência exitosa no Brasil", diz Barros, do Cepea. "A Embrapa foi precursora nas parcerias público-privadas, com resultados concretos. As universidades também procuram manter estreito relacionamento com instituições representativas de empresas do agronegócio e de produtores rurais", afirma.

Para Contini, da Embrapa, as parcerias precisam ser fortalecidas. "A Embrapa colocou centros especializados em regiões estratégicas do Brasil, numa época em que o setor privado ainda não estava forte nos investimentos, como nas décadas de 80 e 90", diz. "Agora, procura parcerias mais estreitas com as empresas para apoiar os produtores. É um trabalho que vai levar duas ou três décadas e está só começando", diz. Ainda segundo a entidade, o Brasil aplica em pesquisa de 1,2% a 1,4% do PIB - metade do que em países desenvolvidos.

Assim, se em relação à tecnologia disponível não ficamos atrás de competidores como Estados Unidos, Europa e Ásia, sua disseminação por aqui ainda é limitada. "Ainda há muito produtor no Brasil com baixo nível de qualificação educacional e de treinamento", diz Pessôa. Ele afirma que, de 5,5 milhões de propriedades rurais no País, apenas 10% usam o que há de mais avançado tanto em tecnologia como em gestão de questões trabalhistas e ambientais - outro grande desafio para o setor.

"A maioria dos produtores rurais não participou desse processo de modernização. Eles precisam receber a devida prioridade do governo para promover sua inserção produtiva, através de políticas adequadas", diz Barros.

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