Os grandes entraves no Transporte Rodoviário de Cargas, por José Augusto Dantas

Publicado em
15 de Fevereiro de 2012
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Entra ano, sai ano e os entraves no Transporte Rodoviário de Cargas permanecem os mesmos. Existem soluções para que estes entraves sejam solucionados? Quais são as soluções SPRs, ou, simples, possíveis e rápidas?

1- Excessivo número de empresas no setor, o que provoca acirramento da competição e perda no poder de barganha junto aos Clientes;
Em 2007, cerca de 634.471 transportadores haviam concluído seus registros no RNTRC, em 2011, este número subiu para 1.285.343, crescimento superior a 54%, mesmo tendo como base um crescimento de 42% no PIB no mesmo período. Esta situação derruba o valor do frete, chegando inclusive a provocar margens negativas.

A solução é o aumento das dificuldades de abrir uma empresa de transporte de cargas, exigindo que o interessado seja profissional oriundo da área, e não somente um oportunista a procura de ganhos fáceis, diminuindo o saturamento do setor.

2- “Comoditização” do produto transporte;

Hoje, devido à concorrência, reforçada principalmente pelo autônomo, tanto faz para um embarcador se vai carregar com X ou Y, importando somente o preço oferecido.

A primeira solução para este problema é a especialização da transportadora em uma determinada área, grãos a granel, cargas fracionadas com alta capilaridade, químicos classificados, etc., aliada a oferta de diferenciais competitivos no ramo de atuação, como: Prazos reduzidos de entregas, amplitude de atendimento, confiabilidade nas informações e credibilidade, oferecendo algo que os concorrentes não oferecem, sem prejudicar o preço final.

A segunda é preparar o autônomo de forma a conscientizá-lo da necessidade de saber se o frete recebido cobre os custos e remunera de forma adequada seu trabalho, e capacitando-o a fazer os cálculos necessários.

3- Má conservação das estradas;

A degradação da malha rodoviária acarreta aumentos de custos operacionais em até 40%, gastos adicionais com combustíveis até 60%, e tempos de viagem maiores em até 100 %.

Apesar de ser considerado o grande vilão, o pedágio que acompanha obrigatoriamente as privatizações das estradas, possibilita um ganho real em todos os itens citados, já que a conservação das estradas melhora, e o valor, por lei, é responsabilidade do embarcador.

Os cartões pré pagos são eficientes aliados para cumprir esta tarefa. Os dispositivos tipo “sem parar” poderiam ajudar, usando também o sistema pré pago, cujos depósitos seriam feitos pelos embarcadores para cobrir o trecho entre origem e destino do frete.

4- Roubo de cargas;

Atualmente, o roubo de cargas vêm diminuindo ano a ano. O declínio se deve não à maior estrutura do Estado no quesito segurança, e sim aos pesados investimentos que foram feitos pelas empresas, que chegaram a absurdos 15% do faturamento, e que obrigatoriamente continuam.

A simples exigência do porte de uma autorização do dono do veículo, com firma reconhecida em cartório, autorizando o motorista a conduzir o dito veículo, combinado com uma maior fiscalização contribuiria para diminuir o crime.

5- Pesada carga tributária;

Consome cerca de 30% do faturamento das empresas. Além dos 61 tributos existentes no Brasil, as empresas ainda gastam algo equivalente a 1% de seu faturamento para garantir o cumprimento das 93 obrigações fiscais acessórias, materializadas em livros, declarações, guias, formulários, etc.

A tão esperada Reforma Tributária, aliada a um olhar mais justo ao setor ajudaria a mudar o panorama.

6- Pouca carga de retorno;

O desequilíbrio na produção brasileira faz com que o PIB esteja concentrado nos Estados do Sul e Sudeste, que juntos representam cerca de 75% do total. Isto resulta em uma grande necessidade de envio de cargas às regiões menos produtivas, que não oferecem cargas de retorno na mesma proporção.

Esta baixa oferta obriga transportadores a aceitarem fretes de retorno que muitas vezes, não remunera nem mesmo o combustível gasto.
O investimento na produção nos Estados menos produtivos ajudaria a equilibrar o quadro, além de gerar empregos e melhor distribuição de renda.

7- Avançada idade da frota;

A frota estimada é de aproximadamente 2.673.691 veículos automotores de carga, sendo que aproximadamente 1.600.000 com idade superior a 15 anos.

Além de exigirem maiores custos, esta frota também contribui para aumentar os acidentes, que atualmente consomem mais de R$10 bilhões.

É inacreditável que taxis sejam vendidos sem recolherem impostos e sejam amplamente financiados, enquanto caminhões, que escoam a produção, são taxados com altos índices e financiados com altos juros. A simples redução nos impostos, aliada à disponibilidade de crédito com juros subsidiados promoveria a renovação da frota, que traria benefícios imediatos, tais como: Melhora na qualidade do ar, redução no número de acidentes, maior eficiência com conseqüente diminuição nos tempos de transferências e economia no consumo de Diesel, que custa caro para o país.

O País precisa fazer com que o Procaminhoneiro funcione, e consiga atingir principalmente o autônomo.

8- Altos tempos para carga e descarga;

Não permite o total aproveitamento dos veículos, diminuindo o faturamento. O embarcador e o recebedor acabam transformando os veículos em armazéns ambulantes, e o mais grave, na maior parte das vezes não pagam por isso.

Mais uma vez, é só fazer cumprir a lei. É preciso criar uma ouvidoria para receber denúncias na ANTT, e que por sua vez, os fatos sejam apurados e punidos quando necessário.

9- Excesso de peso

Os males do excesso de peso não dizem somente a degradação das estadas e dos veículos. Além de ser um sério risco à segurança, ele diminui a ocupação dos veículos, contribuindo para nivelar o preço do frete para baixo.

A implantação e manutenção das balanças são, aliadas a uma severa legislação, a forma mais eficaz de combater esta prática.
Se um veículo flagrado com excesso de peso tivesse o dito excesso apreendido pelo poder público e levado a leilão, faria com que o embarcador não tivesse coragem de continuar com esta prática.

As multas, quando ocorrem, são relativamente baixas, e os embarcadores e transportadores que são coniventes com esta prática sabem exatamente em quais rodovias eles podem circular em função da não existência de fiscalização.

Chegou a hora do Estado atuar com vigor no TRC, já que a matriz de transporte deverá continuar com predominância superior a 60% para o setor, caso contrário, o colapso será inevitável.

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