Eficácia nas atividades logísticas e foco no ser humano ajudam na redução das incertezas logísticas e empresariais atuais.

Publicado em
04 de Outubro de 2021
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Artigo escrito por Paulo Roberto Guedes*

Já não é mais surpresa ouvir, nas discussões sobre logística e abastecimento da cadeia de suprimentos, as palavras “ruptura” (rompimento, interrupção ou quebra de um acordo, de um tratado ou de um pacto) e “resiliência” (voltar ao estado normal ou, simplificadamente, resistir), principalmente pelo fato de que as cadeias produtivas, por melhor planejadas que sejam, diariamente estão sujeitas aos mais diversos tipos de problemas, em algum processo produtivo ou no fluxo de algum tipo de prestação de serviços. E os motivos também são diversos, uma vez que a “era de incertezas” é uma característica percebida por todo o mundo, há algum tempo.

E se diante da pandemia, tudo ficou muito mais difícil e complexo, posto que ainda não há clareza de qual caminho deve ser tomado, uma verdade já se impõe: maiores esforços, dedicação e capacitação de todos aqueles que exercem suas funções na administração das cadeias de suprimentos, os profissionais de “supply chain”, serão exigidos.

E aqui me permito lembrar o que disseram Paul Romer, economista-chefe do Banco Mundial e o professor Bill George, da Universidade de Harvard. Romer: “uma crise é uma coisa terrível para ser desperdiçada”; George: “a crise não se resolverá sozinha, então negar sua existência pode apenas deixar as coisas piores, muito piores”. 

Aceitando-se que rupturas na cadeia de suprimentos têm as mais diversas origens, e muitas delas ainda desconhecidas, parece fundamental que os profissionais de logística e “supply chain management” (SCM) procurem se ocupar com o desenvolvimento de instrumentos que facilitem a identificação, o conhecimento e a compreensão das causas desses eventos de ruptura, como forma de resistir e minimizar prejuízos. Não negar e ainda aprender com as crises é uma grande ‘sacada’! Consequentemente, tão importante quanto, é preciso antecipar-se e se prevenir, seja na elaboração de ‘planos b’ ou no desenho de estratégias complementares que tenham como objetivo a manutenção e o bom funcionamento dos sistemas operacionais existentes. 

Encarar a crise de frente e fazer um correto diagnóstico com relação às suas causas e origens é, portanto, o primeiro passo, sempre e quando se quer encontrar soluções efetivas para os problemas empresariais atuais. E é aí que se impõem, entre outras tarefas importantes, analise cuidadosa das cadeias de suprimentos e distribuição, uma vez que além de sua função principal – aumentar a eficácia operacional das atividades dedicadas à movimentação e armazenamento de mercadorias – o “supply chain management” (SCM) contribui diretamente para a otimização dos recursos financeiros (“fazer caixa”), melhoria dos resultados e maior geração de lucros.

E é o que parece estar acontecendo na maioria das empresas atualmente, momento no qual a administração da logística assume papel mais estratégico do que operacional (já escrevi sobre isso outras vezes), uma vez que também contribui para aumentar a rentabilidade e otimizar o capital de giro, seja garantindo o abastecimento e a distribuição, gerenciando eficientemente estoques ou melhorando o relacionamento com fornecedores e clientes. 

A logística e a administração das cadeias de abastecimento e distribuição tornaram-se instrumentos imprescindíveis para uma eficaz gestão de negócios. Com a renegociação de contratos, a identificação de fornecedores críticos (por exemplo, com possibilidades de insolvência), a minimização de inventários, a redução da complexidade e da quantidade de “skus” (stock keeping unit ou unidade de manutenção de estoque), a busca de proteção contra possíveis rupturas e a melhoria da atividade de gerenciamento de riscos, por exemplo, consegue-se alcançar o melhor aproveitamento possível de todos os recursos empresariais.

Em face do exposto, constata-se que há devida e clara coerência entre os objetivos empresariais e os da logística e do SCM, observando-se total aderência às melhores práticas administrativas, nas quais se incluem o ESG (“Environmenntal, Social and Governance”), comumente defendidas como características de uma administração adaptada aos ‘novos tempos’. 

Na medida em que a logística e o SCM se integram com as demais áreas de negócios e da administração empresarial, eles se tornam fundamentais na análise das mudanças que, como se sabe, são cada vez mais frequentes e rápidas. Com isso, qualquer plano de negócios que exige melhoria do foco e adaptação rápida aos novos cenários que se apresentam, jamais poderá prescindir da logística e do SCM. 

A logística e o “supply chain” não são mais ou menos importante que as demais disciplinas administrativas, mas como todas as demais, faz parte de um conjunto que não pode ser visto de forma separada ou independente, posto que estão ligadas com profunda interdependência. A logística e o SCM, além de essenciais e estratégicas para que as empresas sobrevivam, cresçam e se desenvolvam, elas também contribuem para que se encontrem as melhores, mais adaptáveis e permanentes soluções em tempos de crises.

Mas é imprescindível, como já escrevi em texto específico (“Uma logística eficaz exige realismo”), publicado aqui mesmo em abril deste ano, que a boa administração da cadeia de suprimentos se faça respeitando, acima de tudo, o ser humano. Tanto como ator essencial do processo de produção, como o principal objetivo a ser atendido por toda e qualquer atividade econômica. Afinal não é preciso lembrar que empregados com saúde e segurança, não só cuidam bem de suas famílias e transformam o mundo em um lugar melhor para se viver, como também trabalham e produzem muito mais.

Consequentemente, é fundamental compreender que atualizar-se e adaptar-se às novas exigências da logística e do “supply-chain”, não apenas implica na adoção de novas e mais modernas tecnologias ou processos, mas sim um movimento para se promover um grau de consciência no qual o bem estar de todo ser humano deve ser o principal fim.  

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