Apesar de tudo, a solução da economia está na política*

Publicado em
01 de Setembro de 2017
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Como sempre faço quase que diariamente, além de livros e revistas que me interessam (filosofia, sociologia, política, economia e logística são os assuntos preferidos), também leio e vejo (via internet ou TV), os principais jornais do Brasil. E tenho, inclusive, o costume de conversar com alguns amigos sobre esses e outros temas mais ‘brandos’. Da economia à política ou da logística ao esporte, “bato papos” interessantes com profissionais de quase todos os ramos, pessoalmente, via celular ou e-mail. Muitas conversas são oriundas dos textos que escrevo e, portanto, ainda servem como instrumentos saudáveis de críticas.

Em face do meu trabalho, e ousadamente, comecei escrevendo sobre logística, mas diante da infinidade de assuntos políticos produzidos pela nossa classe política, ousei, também, escrever mais especificamente sobre política. Sobre economia, por ‘ossos de profissão’ e por sempre ter tido uma relação mais próxima, e entender que ela é indissociável da política, resolvi escrever também. Ousadia pura, em todos os casos. 

O quê me conforta – e estimula continuar escrevendo - é o fato de ter recebido mais críticas boas do que ruins. Além, é claro, e aí vai uma avaliação particular, o fato de encontrar nas leituras disponíveis, muita “coisa ruim”. Ignorância, má fé, hipocrisia e desonestidade intelectual – que me irritam profundamente – brotam em quantidades cada vez maiores em quase todos os meios de comunicação existentes. Lamentavelmente ‘fake news’, ‘pós-verdade’ e ‘politicamente correto’ tornaram-se características marcantes da mídia brasileira e mundial, contribuindo ainda mais para “o samba do crioulo doido”.

Uma observação que a maioria de ‘meus leitores’ (desculpem-me a presunção, pois não chegam às três centenas aqueles que, de fato, leem os textos de ‘cabo a rabo’) faz é a de que, no final de cada artigo, eu coloco uma mensagem de esperança. Depois de comentar sobre alguns dos problemas que afetam a logística, eu procuro alinhavar algumas propostas de solução. Se as críticas são com relação à economia, sempre faço algumas observações que indicam possibilidades de melhoras. Se o problema é a Política, tendo a crer que nossas classes dirigentes, 

pressionadas pela população, cada vez mais vigilante e mobilizada, forçará a busca de soluções aos impasses e conflitos existentes. E assim por diante. É óbvio que não se trata de uma esperança baseada nos contos de fadas nos quais ‘tudo acaba bem’. A esperança expressada e as expectativas de melhoras comentadas estão baseadas em possibilidades reais e disponíveis e de acordo com as circunstâncias que se apresentam. E mais do que tudo, são esperanças que se alicerçam na presunção de que a construção de algo bom é o mais provável resultado de um trabalho sério e de uma postura e um comportamento correto, honesto, digno e justo daqueles que o realizam. Dessa forma, sempre é possível, quase uma certeza, propor e realizar melhorias em tudo o que ‘não está bom’.

Sempre acreditei no trabalho, como uma das formas de se alcançar o que se busca. Mas, como comentado anteriormente, sempre acreditei no trabalho sério, que almeja somente o ‘possível’, pois por mais óbvio que possa parecer, o impossível é algo fora de nosso alcance. Exceto nos manuais de autoajuda e nos discursos de mentirosos.

Portanto, ao falar em trabalho, refiro-me ao esforço que todo ser humano, respeitando o direito dos outros, tem de fazer para atingir seus objetivos e realizar sonhos e desejos. E que, quando bem executado, ainda gera satisfação pessoal, crescimento profissional a aumento da autoestima. É verdadeiro o ditado: “o trabalho dignifica o homem”.

Nos últimos ‘papos’ que tive com amigos, observei dois tipos de comentários distintos: um era de que as “coisas” não estavam caminhando bem e, portanto, a esperança observada nos finais da maioria de meus artigos talvez não se justifique. O outro comentário era para que eu enfatizasse um pouco mais, também o que de ‘bom’ vem acontecendo, uma vez que está cada vez mais difícil ouvir o noticiário diário, ruim em quase tudo que diz respeito ao Brasil.

Sou uma pessoa esperançosa por natureza, mas, às vezes, muito cética (desconfio de dogmas e acredito que para determinados casos há a necessidade de comprovação) em relação ao ser humano e ao futuro do mundo e, mais precisamente, com relação ao Brasil. Trump, Coréia do Norte, Síria, Estado Islâmico, supremacias, imigração descontrolada, intolerância, descaso com o meio ambiente etc., são apenas alguns exemplos internacionais. Falência do Estado, descontrole fiscal, corporativismo burro, aumento generalizado do tráfico e da comercialização de drogas, criminalidade, violência urbana, mortes no trânsito, desrespeito ao meio ambiente e corrupção, entre outros, são apenas alguns dos exemplos brasileiros. 

O motivo desta ‘peroração’ e deste texto, propriamente dito, é o quê está acontecendo no Brasil atualmente. A situação está ficando ‘meio assustadora’.

Já falei e escrevi muito sobre as diversas dificuldades pelas quais passava e passa nosso País (políticas, econômicas ou logísticas), mas sempre, como já salientado, finalizando com uma mensagem de esperança, posto que acreditava existir, naquele momento, base sólida para o correto encaminhamento das soluções que se faziam necessárias. E havia tempo! 

Entretanto, a evolução dos fatos e o noticiário não nos deixa respirar e parece incrível como tudo está piorando, apesar de parecer o contrário para muitos.

Embora estejamos vivendo o agravamento da maior de todas as crises já ocorridas no Brasil, nossos dirigentes ainda não se deram conta dessa gravidade e estão de “costas” para o País, por ignorância, conveniência, má fé ou burrice.

Vejamos: no início deste ano, quando a esperança era maior, mesmo considerando a PEC do Teto de Gastos (já aprovada) e a reforma da Previdência (cuja aprovação dificilmente ocorrerá neste ano e, com toda a certeza, totalmente ‘alterada para pior’), o próprio governo brasileiro reconhecia que somente seria possível ‘zerar’ o déficit a partir de 2020, quando a dívida bruta do governo, segundo especialistas, estaria próximo dos 85% do PIB! 

Nesta semana as últimas notícias a respeito. O déficit primário brasileiro (antes dos juros, vale à pena frisar) já foi aumentado em R$ 20 bilhões para este ano e R$ 30 bilhões para o ano que vem. Enquanto as despesas quase não diminuem, apesar dos esforços realizados, as receitas têm caído em percentuais superiores e crescentes. O resultado negativo de julho foi de R$ 20,2 bilhões, elevando o acumulado, em sete meses, a R$ 76,3 bilhões. Apenas avaliando os resultados de julho de cada ano, e segundo informações da Secretaria do Tesouro Nacional, temos: superávit de R$ 3,8 bilhões em 2013, déficit de R$ 2,2 bilhões em 2014, déficit de R$ 7,1 bilhões em 2015 e déficit de R$ 19,2 bilhões em 2016. Pioras consideráveis! A evolução dos déficits demonstra isso de forma clara e inquestionável e a meta aprovada no Congresso Nacional (sabe-se lá a que custo), de R$ 159 bilhões dificilmente será alcançada. Óbvio e automático, tudo ficará ainda mais complicado para 2018, ano de eleições. O governo brasileiro, infelizmente, perdeu totalmente o controle sobre as contas públicas. 

Nosso Presidente da República, em viagem à China, fragilizado, sem capital político, refém do Congresso, mesmo que consiga se safar de outras denúncias da PGR, não aprovará nada de importante neste ano. Aliás, seus esforços – como vêm ocorrendo à meses - serão totalmente orientados para isso, isto é, construir obstáculos para ficar o mais longe possível das denúncias de corrupção. Pelo menos neste quesito - combater a Lava Jato e quaisquer outros movimentos que investiguem os desvios de dinheiro público – ele terá muito apoio e fará qualquer coisa. 
Como se diz popularmente, “um prato cheio” para determinados partidos políticos e certas bancadas empresariais, de banqueiros, de ruralistas, de mineradores, de funcionários públicos (e como existem em Brasília!), de sindicalistas e de outras corporações que só querem resolver seus próprios problemas. Essas bancadas, outras menos relevantes e a grande maioria dos partidos políticos, continuarão “deitando e rolando”. Lamentavelmente, pelo que se sabe, não existe alguma bancada que represente a população brasileira e quando falam em nome dela, são hipócritas ou demagogos. Com as exceções de sempre estão visando as próximas eleições e defendendo seus interesses, caso contrário, não estariam tentando aprovar esse arremedo de reforma Política em discussão atualmente no Congresso.

Portanto, reforma da Previdência e outras com semelhante grau de importância para o Brasil, não terão a mínima chance de prosperar. É redundância dizer, então, que qualquer proposta de ajuste fiscal que exija aprovação política estará fadada ao insucesso. Até porque o preço, para isso, também será muito alto. 

Ora, a queda contínua de receitas, a inflexibilidade de gastos e a perda de poder político do executivo federal, aliado ao descrédito de toda e qualquer instituição pública, e em todos os níveis, só contribuem para que os resultados negativos das contas públicas se mantenham. Mesmo com os reais esforços da equipe econômica e do intenso programa de marketing governamental. Nem o anúncio das privatizações – obviamente necessárias – salvará o País do caos fiscal instalado. Aliás, ressalve-se, programa que não contará com apoio das diversas corporações importantes no cenário político brasileiro que, como se sabe, lutarão para manterem seus privilégios e interesses ‘obscuros’.

Se o caminho para o Brasil sair da atual crise estava sendo construído com base nos programas de reformas, do ajuste e da responsabilidade fiscal, das privatizações e das concessões e da definição do tamanho do Estado, ou seja, dependente da habilidade e do ‘cacife’ político do Governo Federal, que precisaria manter relações positivas com o Congresso Nacional, pode-se esperar muitas dificuldades. Na verdade, impossibilidades. 

As corporações representativas do funcionalismo público, em todos os poderes (legislativo, judiciário e executivo) e esferas (federal, estadual e municipal) não aceitam alterações naquilo que consideram ‘direito adquirido’ e não abre mão de seus privilégios; razoável parte do empresariado ainda briga por benesses (mesmo quando a OMC condena o País por ferir regras internacionais de comércio); a maior parte da população brasileira, mesmo sofrendo com a crise, não entende e até certo ponto ignora as causas e o quê de fato está ocorrendo; e sem lideranças políticas capazes de conduzir um processo de mudanças convergente, o Brasil se aproxima, rápida e perigosamente, do caos. 

O desequilíbrio das contas públicas e o aumento da dívida poderão, caso esse processo não seja interrompido a tempo, trazer a inflação de volta, ‘estancar’ o processo de queda do juro, gerar mais desconfiança, mais instabilidade econômica e destruir o pouco que se conseguiu neste último ano. E com desemprego ainda nas ‘alturas’, as pressões da sociedade aumentarão. 

Mesmo que paire um precavido otimismo econômico entre analistas, jornalistas e empresários, o clima de confiança, imprescindível para estimular investimentos, ainda dependerá da evolução da política, das pesquisas eleitorais e do andamento da Lava Jato e seus desdobramentos. Não há como ser diferente, pois como tenho insistido, a solução está na Política.

Infelizmente a grande maioria de nossos representantes não está à altura das necessidades que se impõem neste momento. Além disso, a maioria está envolvida em escândalos de corrupção, não sabe, não pode e não quer fazer o que precisa ser feito (“O Brasil é um País que tem medo de ir ao dentista. Está ficando banguela” foi o título de um texto que publiquei no dia 06/06/17). E os 13,3 milhões de desempregados não têm mais tempo, tampouco paciência. Caso nada pior aconteça, as esperanças ficam por conta das próximas eleições. 

Impossível antever o que poderá acontecer em 2018, pois tanto poderemos nos aproximar da Venezuela como da Argentina. Tanto poderemos ser atraídos por um tirano demagógico e populista que, para não se comprometer com nada e agradar a todos ‘deixe tudo como está’, como poderemos eleger um governante disposto a implantar as reformas necessárias e reforçar a Democracia. Entre esses dois extremos, e diversas outras opções no meio, mais para um lado ou mais para outro, tudo será possível. Apesar de cético e não saber quais são as bases que me fazem acreditar nisso, minha esperança é a de que, pelo menos, mantenhamos a Democracia.

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