Mais de um terço dos motoristas profissionais foge do exame toxicológico

Publicado em
25 de Outubro de 2016
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Após seis meses de obrigatoriedade do teste, cerca de 650 mil profissionais foram testados em todo o país

A violência nas estradas e vias urbanas foi o centro da discussão que reuniu especialistas, autoridades e defensores de um trânsito seguro, no último dia 20, no Salão Nobre da Bolsa de Valores do Rio. Organizado pelo Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS), o evento abordou um dos temas que gerou resistência entre diferentes grupos: o exame toxicológico de larga janela de detecção.

Após seis meses de exame toxicológico obrigatório (de março a agosto), os primeiros resultados indicam a eficácia da medida. Foram cerca de 650 mil profissionais testados em todo o país, e a positividade para uso de drogas está em 9% para motoristas admitidos e demitidos no período. Mais de um terço dos condutores profissionais não renovaram sua carteira ou migraram para outra categoria, onde o exame não é exigido. Essa fuga expressa evidentemente um grande potencial de positividade escondida para uso de drogas.

Em paralelo, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), de março a julho de 2016, o número de acidentes envolvendo caminhões nas estradas federais do Brasil diminuiu de 18 mil para 11 mil, uma redução de 38%, em relação ao mesmo período do ano anterior. Para Márcio Liberbaum, presidente do ITTS, esse dado já comprova uma mudança no comportamento de motoristas usuários de drogas. “O exame já mostra sua eficácia, seja porque o motorista parou de se drogar para fazer o exame no futuro nas condições adequadas, seja porque não consegue abandonar as drogas e decidiu mudar para outra categoria que não exija o exame”, explica.

Para o psiquiatra José Alberto Zusman, pós-doutor em Addiction pela Universidade de Harvard, o exame é uma importante medida preventiva. “O usuário regular de drogas é vítima de incapacitação permanente, seja pelos efeitos das substâncias ou pela abstinência. A curto e médio prazo, a melhor saída é a prevenção contra o uso de drogas”, diz.

Redução de acidentes e mortes

No Paraná, que tem a 3ª maior frota do país, os resultados da nova política foram expressivos. O estado, que realiza o exame toxicológico desde março, quando começou a exigência, registrou queda de 23% no número de acidentes envolvendo caminhões nas rodovias federais. O número de mortes nessas mesmas rodovias caiu em 20%. Marcos Traad, Diretor do DETRAN/PR e Presidente da Associação Nacional dos Detrans, explica que os pedidos de rebaixamento das categorias C,D e E para aquelas que não exigem o exame (A e B) aumentaram 153%.

Durante o evento, Rodolfo Rizzotto, do SOS Estradas, alertou que os motoristas profissionais usam a droga para sobreviver. “O caminhoneiro é vítima de um processo de exploração. É um trabalhador querendo chegar ao seu destino, e pode passar até 200 dias por ano dentro de um caminhão, preocupado com prazos, risco de furtos na estrada ou enquanto dorme. A pressão psicológica faz com que muitos recorram às drogas”.

Jaqueline Carrijo é auditora do trabalho em Goiás e levou sua experiência para o evento. Ela explica que a responsabilidade é dos empregadores, que exigem prazos cada vez mais curtos e jornadas cada vez maiores. Eles precisam ser responsabilizados, defende. Segundo elas, as más condições de trabalho são diversas, e incluem baixa remuneração e péssimas condições de trabalho, com uma jornada perigosa que pode chegar a 20 ou 30 horas.

Estima-se que um terço dos motoristas profissionais faça uso de alguma droga. Em uma fiscalização realizada em 2015 pelo Ministério Público do Trabalho em parceria com a PRF, um em cada três caminhoneiros submetidos a exames toxicológicos tinha usado drogas. Os veículos pesados, que representam apenas 4% da frota, estão envolvidos em 38% dos acidentes e 53% das mortes. Somente com um trânsito livre de drogas será possível reduzir esses números.

É o que acredita o Deputado Federal Hugo Leal (PSB-RJ), da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, que comparou o exame toxicológico à Lei Seca, em vigor há oito anos. “No início da Lei Seca houve quem criticasse a lei, mas com o tempo, ela gerou uma mudança no comportamento das pessoas. Os acidentes diminuíram drasticamente e hoje existe uma geração que vai tirar a CNH com o pensamento de não beber ao dirigir”, explica.

No caso do exame toxicológico também deverá haver uma mudança de paradigma, em que não iremos tolerar nem álcool, nem drogas em nossas estradas. “Já estamos em contato com os Detrans e os laboratórios para garantir o bem-estar e a segurança da população”, garante o Diretor-Geral do Denatran, Elmer Vicenci.

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